Crítica Deixa Ela Entrar revela como o terror pode ser delicado, silencioso e profundamente humano.
Muitos esperam sustos e monstros explícitos, mas encontram uma narrativa sobre solidão, desejo de pertencimento e o desconforto do crescimento.
Ao explorar simbolismos, sutilezas visuais e relações ambíguas, o conteúdo mergulha na essência desse clássico sueco, mostrando por que ele marca o espectador muito além do susto.
Ficha Técnica
Género: Terror, Drama, Romance
Ano: 2008
Nota Imdb: 7,9/10
Onde Assistir: Prime Video / Apple TV / Google Play Filmes
Duração: 115 min
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No subúrbio gelado de Estocolmo, Oskar (Kåre Hedebrant) é um garoto pálido, isolado, acuado pelo bullying e por um lar esvaziado.
A rotina muda quando surge Eli (Lina Leandersson), vizinha “da mesma idade”, que só aparece à noite e carrega um silêncio antigo.
A amizade nasce no playground coberto de neve e, aos poucos, o filme revela a engrenagem sombria que sustenta a sobrevivência de Eli: um guardião exausto, crimes discretos, a fome que não espera.
Tomas Alfredson dirige com mão firme e olhar humano, evitando os atalhos fáceis do gore para apostar em atmosfera e sugestão.
A fotografia de Hoyte van Hoytema mergulha tudo em pretos, marrons e cinzas, como se o mundo estivesse sempre à meia-luz; a câmera frequentemente na mão mantém o espectador no mesmo estado de desnorteio dos personagens, e o som — seco, diegético — torna cada respiração, cada atrito na neve, parte da tensão.
O roteiro de John Ajvide Lindqvist (autor do romance) reinterpreta regras clássicas do vampirismo sem torná-las folclore: a necessidade do convite, por exemplo, ganha aqui uma resposta gráfica e angustiante, que diz mais sobre confiança do que sobre superstição.
Mas o coração do filme está na ambiguidade: Eli precisa de um guardião para existir; Oskar precisa de alguém para vê-lo. A pergunta “você ainda gostaria de mim se eu não fosse uma menina?” funciona como chave de leitura — identidade, desejo e afeto aparecem deslocados das categorias confortáveis.
Oskar flerta com a violência como fantasia de defesa; Eli oferece acolhimento e perigo na mesma medida. O espectador é convidado a decidir se há cálculo nessa aproximação (o substituto do guardião envelhecido) ou um afeto genuíno que o tempo e o sangue não explicam.
Essa incerteza sustenta um romantismo estranho, onde o vínculo salva e condena ao mesmo tempo.
Visualmente, o filme prefere a elipse ao espetáculo. A célebre sequência da piscina — um ápice de minimalismo mostrado quase “em primeira pessoa”, fora de quadro — condensa a proposta estética: menos ver, mais sentir.
Não há vampiros glamourosos; há corpos frágeis em ambientes opressores, existências à margem tentando aprender a ser com o outro. Quando a violência irrompe, ela é breve, feia, inesquecível, porque serve ao drama e não ao choque gratuito.
Por isso o impacto é de efeito retardado: “Deixa Ela Entrar” permanece na memória como um conto de inverno sobre duas almas exiladas que encontram, uma na outra, razão para continuar — e talvez uma passagem sem volta.
Entre a ternura e o horror, Alfredson firma um filme de formação às avessas: crescer dói, amar exige custo, e a salvação nunca vem sem cicatrizes.
Perguntas Frequentes
Deixa Ela Entrar é um filme de terror ou um drama?
É os dois. O longa combina elementos de terror e suspense com uma forte camada dramática. Embora tenha cenas sangrentas e assustadoras, o foco está nas emoções e na relação entre Oskar e Eli — uma mistura de amizade, amor e solidão.
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Qual é o significado do título “Deixa Ela Entrar”?
O título vem da regra tradicional dos vampiros: eles só podem entrar em uma casa se forem convidados. No filme, essa condição é usada como metáfora para confiança e aceitação. Deixar Eli “entrar” é mais do que abrir a porta — é permitir que o outro veja suas vulnerabilidades.
O filme é violento?
Sim, mas de forma contida e significativa. As cenas de violência são pontuais, realistas e nunca gratuitas. O terror aqui é mais psicológico e emocional do que gráfico — o que torna os momentos sangrentos ainda mais impactantes.
Qual é a principal mensagem do filme?
“Deixa Ela Entrar” fala sobre solidão, amadurecimento e o desejo de pertencimento. O vampirismo é usado como metáfora para a exclusão social e para o medo de ser diferente. No fundo, é uma história sobre duas pessoas marginalizadas que se reconhecem uma na outra.
O filme tem final feliz ou triste?
Depende da interpretação. O final pode ser visto como um ato de libertação e cumplicidade entre Oskar e Eli — ou como um ciclo trágico que se repete. Essa ambiguidade é intencional e faz parte do charme do filme.
Qual é a diferença entre o original e o remake americano?
A versão sueca (2008) é mais poética, fria e contemplativa, enquanto o remake americano (Deixe-me Entrar, 2010) enfatiza mais a ação e o horror. Ambos são elogiados, mas o original é considerado mais autêntico e emocionalmente poderoso.